Teoria de um único discurso
- Egon Ralf Souza Vidal
- 18 de ago. de 2017
- 4 min de leitura
Tabu - Jornal sem preconceitos
Canavieiras, 27 de dezembro de 2017

Ao tomar o processo de evolução da humanidade como elemento de análise retroativa, sob o prisma inicial das narrativas históricas, podemos considerar que a maior parte de nós não teve a oportunidade de vivenciar os fenômenos históricos do primado dos séculos passados, quer ocorridos em nosso país, quer em outros países, mas que tais e tais fenômenos desenharam um grifo de circular aliança, em papel atemporal, para que pudéssemos compreender a realidade ou falsidade das experiências atuais em pequena ou grande escala. Outros, infelizmente – se considerarmos o alto grau de violência e destruição envolvidos –, como uma sutil e silenciosa minoria, puderam vivenciar de perto alguns dos fenômenos históricos incisivos do século XX e colher, em alguns casos, informações primárias das situações drásticas que foram real e particularmente vivenciadas – quer por seu país, por seu estado, sua cidade ou vizinhança – mas que, sobretudo, deixaram-lhes marcas indeléveis em seus registros particulares de experiências a nível cognitivo, afetivo e, em muitos casos, em suas personalidades, fundindo-se também a isto, no núcleo mais recôndito e obscuro dos seus universos imaginários, percepções mais ou menos rígidas acerca da realidade.
Os que viveram longinquamente – quer geográfica ou historicamente – o contexto político, o contexto das guerras e revoluções de outrora, decerto colheram informações secundárias ou terciárias acerca dos fatos ocorridos. Destas informações, parte foram intencionalmente distorcidas por meio dos elementos discursivos do autodeclarado campo educacional e da esfera midiática. A outra parte de informações relacionadas indiscutivelmente com a realidade dos fatos, preservando algum possível princípio universal de entendimento, foi posta em cheque por movimentos cruéis e imaturamente desdenhados, por uma série de jogadas maléficas num tabuleiro negro de projeto narrativo e discursivo, predeterminado pela unilateralidade ideológica do platô nacional, que levou a população silente e sedenta por (in) formação, de uma desconfiança inicial e natural para estabelecer a compreensão do inteligível, à absurda e distorcida certeza de tudo, à relativização e ao afastamento da realidade.
A esta exposição inicial se atém algumas das razões para que, nos dias de hoje, grande parte dos brasileiros entendam muitíssimo mal os conceitos primários do campo político (como direita e esquerda, capitalismo e socialismo, etc.) e para que estejam ocupando os últimos lugares em testes mundiais de conhecimento e educação. Na esfera da análise na Teoria do Discurso, de onde podemos colher os rudimentos para estabelecer um entendimento apodítico, vê-se que antes mesmo de se desenvolver uma síntese conceitual das experiências políticas concretas (ou, mutatis mutandis, da experiência filosófica, científica, etc.) em uma cultura, deve-se ter estabelecido uma narrativa romântica ou poética que tenha contribuído à formação de um imaginário coletivo salutar acerca dos fatos sensíveis vivenciados individual ou coletivamente no plano das experiências humanas, ou mesmo ter se estabelecido um ideário dos conhecimentos e experiências possíveis avaliadas em qualquer esfera de conhecimento, antes de se pretender concretizar uma narrativa acerca dos conceitos que aos fatos são particulares e pertinentes.
Se tomarmos como base de investigação a narrativa política contemporânea objetivando a descoberta do elemento que delegou ao estatuto social o caráter de vigência ou reinância das idiossincrasias dos mais revoltados com o chamado universo capitalista, sob a base do esquizofrênico imaginário coletivo e do desenvolvimento sucedâneo dos conceitos que visam exprimir a experiência concreta da população brasileira, sobretudo nos últimos 30 anos, identificamos que um destes elementos propulsores ao estabelecimento de uma suposta uniformidade interpretativa do mundo concreto pautou-se no discurso viciado no prisma ideológico esquerdista dos criminosos que há alguns anos ocupam a nossa política e, na narrativa artística e cultural, que, sob o aval dos conclamados intelectuais brasileiros, ensejam representar na arte um pouco do universo do que é possível, porém atém-se sempre ao universo do que é ideológico.
Junte-se a este fator ideológico, delineado nas teses construtivistas cultivadas nas universidades e que visam esmiuçar a realidade, mas, que dela se afastam por inúmeros motivos, o maior difusor de experiências, a saber, a educação, que sofre com a ampliação da sua oferta sem preparo e formação elementar dos professores que, atados por uma expectativa maiúscula de viver profissionalmente com os bons proventos de sua vocação já são, eles mesmos, vítimas da narrativa viciada, posta em prática sinteticamente na dialética unilateral do emburrecimento coletivo. Eis que temos, então, a fórmula mágica do brasileiro convencional e convencido, que é alguém desconexo com a realidade e impedido, por esta razão, de estabelecer discussões coletivas sobre um único assunto, visando chegar, sobretudo, a um entendimento mais ou menos verossímil, mas, não-ideológico. Afinal, com um pensamento tão restrito e limitado, sem remediações à vista, frente ao status quo da educação nacional, caberá a este brasileiro convencional certificar-se de estabelecer os parâmetros do seu fracasso para impor, como uma autorregra, o contato com aqueles que possuem a mesma medida de seu fracasso – uma vez que qualquer um que ultrapasse a esta medida provocar-lhe-ia temerosos sofrimentos –, estando certo de assegurar-se nos elementos ideológicos que estruturam o seu entendimento da vida, como crenças e pré-conceitos, para impedir, a todo o custo, a ativação de uma dissonância cognitiva.
O fator ideológico, que apresenta-se como uma luneta multifacetada no campo do ensaio humano à compreensão da realidade, não deveria recair sob a necessidade de uma configuração usual para vislumbrar a vida mais facilmente – pois esta é a raiz cognitiva dos preconceitos. Hoje, mais do que nunca, faz-se mister contrapor com outros argumentos, muitos deles com alto grau de verossimilhança e confiabilidade, o ideário coletivo unipartidário, pois daí nada mais se produz que não seja fruto de uma dialética restrita em um tema só, desenvolvidas em quase todas as universidades e propagandas nos espaços sociais como verdade – originárias do campo dos discursos da relatividade –, ipso facto, mas, que não passam muitas vezes de uma profusão de paralaxe cognitiva, ou seja, não passam de fenômenos alheios à realidade, importunando qualquer sinal de inteligência que possa o homem visar expressar.
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