Estresse: definição, neurobiologia e formas de manuseio
- Egon Ralf Souza Vidal
- 19 de ago. de 2017
- 4 min de leitura
O dia a dia no trabalho, na família, no trânsito e em espaços sociais tem se tornado cada vez mais estressor para as pessoas em geral. Há um dado importante nessa questão: são as circunstâncias em si que provocam o estresse ou é a forma de interpretar o mundo ao nosso redor que o produz? Quais os malefícios de viver uma vida estressada? Como harmonizar mais e melhor as nossas atividades de modo a não nos estressarmos com tanta frequência? Estas são algumas perguntas que espera-se responder nesse artigo.
Estresse
Como se sabe, o estresse configura-se como um estado de percepção de estímulos ambientais ou internos que levam o organismo à ativação e excitação emocional, necessárias para a manutenção dos estados de alerta. O estresse leva à quebra do equilíbrio orgânico e à ativação de inúmeras substâncias que tem como objetivo o restabelecimento da homeostasia ou a sua automanutenção, tais como a adrenalina e o cortisol.
A forma individual de responder ao estresse está intimamente ligada à susceptibilidade genética, às formas de educação familiar, ao uso de drogas lícitas e/ou ilícitas, entre outros fatores, como também ao aparecimento de transtornos afetivos, tais como a depressão e a bipolaridade. Tomando a depressão como exemplo, vamos buscar compreender o modelo explicativo para o seu surgimento, com base no estudo da neurobiologia do estresse.
Neurobiologia do estresse
Resposta rápida (fuga): ocorre na presença do evento estressor. Nesses casos, há a ativação do hipotálamo, seguido de ativação da glândula suprarrenal para então ser produzida a adrenalina e o sujeito, então, apresentar uma resposta.
Resposta lenta (Estresse delongado): ocorre lentamente, ao longo das atividades cotidianas. Nesses casos, há a ativação do eixo que envolve três estruturas, ou eixo HPA (hipotálamo-pituitária-adrenal). O resultado é a alta produção de cortisol e a perseveração do estado de estresse.
Para as respostas rápidas, há a ativação do hipotálamo que envia informações à suprarrenal para a produção de adrenalina. No caso das respostas lentas, a resposta se dá pela ativação do eixo HPA. A presença continuada do cortisol, em elevada quantidade, aliado à diminuição das monoaminas, como a serotonina, explicaria o desenvolvimento neurobiológico da depressão.
Nos casos onde há baixa na produção ou captação de monoaminas, os neurônios receptores se tornam hipersensibilizados, abrindo novos receptores na sua membrana celular por meio do uso da própria energia. Desse modo, as células neuronais sacrificam a energia que deveria ser utilizada para a manutenção intracelular e acabam morrendo. À este modelo explicativo dá-se o nome de hipótese monoaminérgica clássica da depressão.

Este fator naturalmente reduz os aspectos positivos do Sistema Nervoso Central (SNC), levando ao aparecimento de humores deprimidos e tristes, redução do interesse, da motivação e dos estados de alerta. Nesses casos, portanto, o sistema está em depressão.
Na falta de serotonina, por exemplo, o neurônio receptor (roxo) irá criar mais receptores ou canais na alternativa de conseguir captar o pouco da substância presente na fenda sináptica. A energia utilizada pelo neurônio para criar tais receptores leva a célula, com o tempo, à sua morte.
Nos casos onde há baixa na produção ou captação de monoaminas, os neurônios receptores se tornam hipersensibilizados, abrindo novos receptores na sua membrana celular por meio do uso da própria energia. Desse modo, as células neuronais sacrificam a energia que deveria ser utilizada para a manutenção intracelular e acabam morrendo. À este modelo explicativo dá-se o nome de hipótese monoaminérgica clássica da depressão. Este fator naturalmente reduz os aspectos positivos do Sistema Nervoso Central (SNC), levando ao aparecimento de humores deprimidos e tristes, redução do interesse, da motivação e dos estados de alerta. Nesses casos, portanto, o sistema está em depressão.
Manuseio do estresse
As filosofias orientais e algumas abordagens estoicas da filosofia têm salientado que o que aflige o homem não são os fatos em si, mas a interpretação que o mesmo faz dos fatos. Esta premissa é importantíssima quando vamos pensar no combate ao estresse, especialmente quando retomamos a pergunta feita no início do texto: são as circunstâncias em si que provocam o estresse ou é a forma de interpretar o mundo ao nosso redor que o produz?
Obviamente, eventos inesperados como abusos, violência, traumas, acidentes, entre outros, são estressores naturais ao nosso SNC e à nossa percepção coletiva dos fatos. A depender da estrutura ética de uma família, organização ou grupo, corrupção, trapaça ou mentiras também poderão mostrar-se como circunstâncias incômodas e, por consequência, produzir algum nível de estresse orgânico como meio natural de deixar-nos biologicamente prontos para a fuga ou para o enfrentamento da situação.
O grande problema do estresse é que, quando persevera sobre o organismo, leva o mesmo a estados depreciativos. As estratégias de enfrentamento (coping) adaptativas tem sido ressaltadas, dessa forma, como um excelente método de controle ou combate ao estresse. O aprendizado de resolução de problemas, atividades criativas, bem como a prática de esportes, yoga ou mesmo a religião estão entre as estratégias que podem ser utilizadas para o manuseio do estresse.
Algumas estratégias, em especial, nos auxiliam a perceber os eventos cotidianos de um modo diferente. As terapias cognitivistas, por exemplo, por meio das suas técnicas, auxiliam o paciente na (re) avaliação da realidade, das emoções e comportamentos consequentes. Estratégias de regulação emocional, do mesmo modo, tem se mostrado eficientes, porque são simples de serem praticadas, geram resultados e podem ser praticadas em qualquer lugar e hora. Desse modo, qualquer atividade salutar que permita uma reavaliação da realidade imediata, a reinterpretação de fatos e possibilite um estilo de vida mais adaptativo, positivo e consequentemente mais saudável, pode se encaixar no rol das formas eficazes de manuseio do estresse.
Mantendo a calma e diminuindo o estresse...

Episódios estressores podem ser precipitantes a humores deprimidos, especialmente quando não sabemos lidar com as emoções. O segredo, então, está no manuseio das funções cognitivas. É importante destinar o foco atencional do mundo exterior para o “mundo interior”, às vezes. Por este caminho, podemos reavaliar as nossas experiências, dando valor àquilo que realmente merece atenção.
Como nos preocupamos demais com tudo a nossa volta, quase todo fato torna-se estressor às nossas vidas. Devemos, sobretudo, tomar medidas e cuidados com a nossa saúde, priorizando atividades e ambientes que favoreçam, também, momentos de interiorização e percepções diversificadas acerca da vida que caminha freneticamente mecanizada. É preciso, para isso, interromper algumas atividades, romper com hábitos que trazemos conosco desde a infância, para assim vivermos mais e melhor.
Referência:
LEAHY, Robert; TIRTH, Denis; NAPOLITANO, Lisa. Regulação emocional em psicoterapia: um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2013.
STAHL, Stephen M. Psicofarmacologia: bases neurocientíficas e aplicações práticas. Guanabara Koogan, 2014.
Comments