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Não ao comunismo! Uma crítica metafísica ao materialismo histórico dialético

  • Egon Ralf Souza Vidal
  • 20 de set. de 2017
  • 4 min de leitura

Tabu - Jornal sem preconceitos

23 de maio de 2017 (adaptado)

No século XIX, Karl Marx e Friedrich Engels propuseram as bases fundamentais do sistema político-filosófico comunista. Três influências motivaram esta teoria, segundo o historiador da filosofia e filósofo político François Châtelet: a filosofia alemã, a economia inglesa e o socialismo francês. Convergindo com a sua origem etimológica, o comunismo (do Latim communis, que significa “comum” ou, “aquilo que é de todos”) diz-se pretender advogar a erradicação de classes sociais e da propriedade privada, bem como o estabelecimento de meios de produção comuns para a conquista de uma sociedade apátrida. Para levar toda esta ideia a efeito, como estratégia intermediária, os comunistas propõe o socialismo: uma via de dominação progressiva do poder do Estado sobre a economia privada e as liberdades individuais. O pressuposto científico de toda esta concepção é o materialismo histórico dialético (ou materialismo dialético): um método analítico, investigativo e explicativo que propõe que tudo o que existe no âmbito humano seja fruto da relação do homem com a natureza.

O materialismo dialético veio como uma subversão ao idealismo dialético do filósofo alemão Hegel. Engels, o parceiro de Marx, discute essa mudança no curso da dinâmica filosófica quando argumenta que a dialética hegeliana teve o seu foco colocado para “cima”, ou para assuntos abstratos. Engels, então, propõe colocar a dialética “sob os seus pés”, voltada a assuntos materiais, para assim tentar explicar os eventos da vida humana. O problema é que desta transposição teórica formou-se um enredo limitante acerca da condição humana: o homem, um ser biopsicosocioespiritual, foi sintetizado. O resultado desta síntese na epistemologia humana – a crucificação do homem no calvário biológico e social – passou a servir como princípio de realidade e legalidade lógico-argumentativa às comunidades científicas. Anos mais tarde, com a crescente difusão da ideia marxista na Europa, especialmente na escola de Frankfurt, diversas correntes ideológicas se formaram e contribuíram para o status quo contemporâneo dessa questão. O feminismo moderno, a ideologia de gênero, as pedagogias socioconstrutivistas, etc., são exemplos significativos disto.

Muitos autores das ciências humanas e da saúde influenciaram-se por esta perspectiva. O materialismo dialético – ainda que guarde algum coeficiente de veracidade – contribuiu aos inúmeros ensaios audaciosos para deslegitimar a multidimensionalidade humana, sua natureza metafísica, sua essência espiritual. É curioso pensar que, se o homem estivesse de fato limitado às experiências concretas e materiais – como propõe o materialismo dialético –, este estaria por muitos anos de distância dessa realidade tecnológica atual, não existiriam gênios sobrepostos a um tempo-espaço determinado e não ignoraríamos nada do que se comprovou importante ao longo das eras. O homem estaria desse modo, preso à temporalidade das experiências atuais, apesar de seu sistema neurobiológico suportar a sua transposição. Este não seria, de fato, o zoon politikon de Aristóteles, nem o próprio “ser de ação histórica” de Karl Marx.

Em contrapartida ao exposto, facilmente podemos constatar que a metafísica subsidiou o aparecimento e o desenvolvimento das muitas ciências e religiões do mundo, porque como substrato da realidade e vertente filosófica, permitiu a investigação daquilo que o materialismo dialético nega: a existência de um mundo extrassensorial e da realidade não imediata (ou seja, aquela que não é acessada mediante os sentidos). As religiões que acreditam em Deus como (1) um ser imanente a tudo o que existe (onipresente), (2) veem-No como ser de consciência plena (onisciência) e (3) como um Ser de poderes plenos (onipotência) são verdadeiras entidades metafísicas. Na verdade, é impossível a tudo o que existe fugir dessa natural constituição metafísica. No caso especial das religiões, esta afirmação se torna ainda mais séria quando observamos que desde a etimologia da palavra “religião” (do latim religio/religare, que significa louvor, reverência, ou religação a Deus [deuses]) até a conjunção de suas práticas, elas visam representar, como doutrina, o anseio humano de devotar a atenção para Deus por meio das experiências transcendentais de meditação, oração, louvor e adoração, que só se abarca na singularidade da experiência da própria alma.

Retomando... Outra crítica que cabe ainda ressaltar refere-se ao preceito ético-moral. Ora, este seria um simples ato de deliberação social utilizado para o estabelecimento de um convívio razoável entre coletividades – como ensaiou Sigmund Freud – se fosse fruto stricto senso da criação humana e social. Contudo, os preceitos não são simples afirmações ditatoriais estabelecidas por grupos religiosos; eles são, isto sim, a materialização institucionalizada extraída da realidade atemporal que está disposta a todos na natureza física e metafísica preexistentes. O fim da sociedade estaria decretado se tudo fosse o oposto disto, pois teríamos um indicativo lógico-argumentativo que garantiria toda a transgressão coletiva, visto que os preceitos seriam meros tabus sociais ou religiosos. Nesse sentido, o incesto, os relacionamentos amorosos múltiplos (poliamor), a zoofilia (sexo/casamento com animais) e o aborto não poderiam ser considerados transgressões ético-morais, uma vez que só seriam inconvenientes por determinação social. Estes são apenas alguns exemplos que ilustram a questão.

Por esses e outros motivos, o comunismo, em sua concepção fundamental, é um ataque violento contra a capacidade humana de superação, de elevação, de transcendência, de reflexão e liberdade, bem como uma tentativa metódica de destituir o ser humano de sua natureza espiritual e de sua vida privada no seio político-social. O comunismo é uma oposição à natureza multifacetada do ser humano, exercida pelo cárcere que suas concepções causam a quem as adere. Centralizando o homem em um destino socialmente tutelado e vitimiza-o contra o Estado, o comunismo almeja culminar no assassinato de Deus e no aprisionamento da humanidade no mais baixo umbral. O comunismo é o mais ímpio dos nossos inimigos, que deve ser combatido em nossa própria ignorância.

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